Vale da Vigilância, Cap 1. Um novo tipo de guerra (2)

Guerras do futuro

Com um metro e sessenta e cinco de altura, olhos amendoados, cabelo muito curto e uma maneira intelectual e suave, William Godel tinha os modos de um acadêmico bem-vestido ou talvez de um diplomata recém-contratado. Ele nasceu em Boulder, Colorado, em 1921, formou-se em Georgetown e conseguiu um emprego na área de inteligência militar no Departamento de Guerra dos EUA. Após o ataque do Japão a Pearl Harbor, foi convocado para o Corpo de Fuzileiros Navais como um oficial e participou de combates no Pacífico Sul, onde levou uma bala na perna, lesão que o deixou permanentemente aleijado. Depois da guerra, ele subiu nas fileiras da inteligência militar, elevando-se ao nível de GS-18 – a maior faixa salarial para funcionários do governo – antes de seu trigésimo aniversário.24

Com o passar dos anos, a carreira de Godel teve uma série de viradas bruscas e muitas vezes bizarras. Esteve no Gabinete do Secretário de Defesa, onde trabalhou em contato com a CIA, a NSA e o exército e ficou conhecido como especialista em guerra psicológica.25 Ele negociou com a Coreia do Norte para resgatar soldados americanos feitos prisioneiros durante a Guerra da Coréia26, ajudou a treinar e coordenar os antigos espiões nazistas da CIA na Alemanha Ocidental27 e participou de uma missão secreta para mapear a Antártida. (Por esse trabalho, nomearam dois glaciares com o seu nome: a Baía de Godel e o Iceport de Godel.) Durante parte de sua célebre carreira na inteligência militar foi assistente do general Graves Erskine, um velho general aposentado do Corpo de Fuzileiros Navais com uma longa história de operações de contrainsurgência. Erskine liderou o Escritório de Operações Especiais do Pentágono, que lidava com guerra psicológica, coleta de informações e operações de acesso clandestino (black bag ops).28

Em 1950, Godel se juntou ao general Erskine em uma missão secreta no Vietnã. O objetivo era avaliar a eficácia das táticas militares que os franceses estavam usando para pacificar uma crescente insurgência anticolonial e determinar que tipo de apoio os Estados Unidos deveriam fornecer. A viagem começou mal quando sua equipe escapou por pouco de uma tentativa de assassinato: três bombas explodiram no saguão de seu hotel em Saigon. Foi uma bela cerimônia de boas-vindas – e ninguém sabia se as bombas haviam sido colocadas pelos norte-vietnamitas ou por seus anfitriões franceses para servir como uma espécie de advertência de que deveriam cuidar de seus próprios negócios. O que quer que fosse, a festa seguia em frente. Eles se incorporaram às tropas coloniais francesas e percorreram suas bases. Em uma excursão, a equipe de Erskine acompanhou uma unidade vietnamita treinada na França em uma emboscada noturna. Seu objetivo era capturar alguns rebeldes para interrogatório e coleta de informações, mas a missão de inteligência rapidamente se transformou em uma invasão furiosa e assassina. Os soldados vietnamitas apoiados pelos franceses decapitaram seus prisioneiros antes que os rebeldes pudessem ser interrogados.29

Lá, nas selvas sufocantes, Godel e sua equipe entenderam que os franceses estavam fazendo tudo errado. A maior parte dos esforços militares franceses parecia se concentrar em proteger suas linhas de comboio de suprimentos, que eram constantemente atacadas por forças de guerrilha enormes que pareciam se materializar da própria selva. Para tanto, eles posicionaram em torno de seis mil homens ao longo de um trecho de três quilômetros de estrada. Os franceses estavam essencialmente encalhados em suas fortificações. Eles haviam “perdido a maior parte do seu espírito ofensivo” e estavam “presos em suas áreas ocupadas”, descreveu um colega de Godel.

“Do jeito que Godel viu, os colonialistas franceses estavam tentando combater os guerrilheiros do Viet Minh segundo as regras coloniais de guerra. Mas os vietnamitas do sul, que estavam recebendo armas e treinamento das forças francesas, estavam na verdade lutando um tipo diferente de guerra, baseado em regras diferentes ”, escreve Annie Jacobsen, que escava a história esquecida de William Godel em The Pentagon’s Brain, sua história da ARPA.30

Esse “tipo diferente de guerra” tinha um nome: contrainsurgência.
Godel compreendeu que os Estados Unidos estavam em rota de colisão deliberada com insurgências em todo o mundo: Sudeste Asiático, Oriente Médio e América Latina. E ele apoiou essa colisão. Godel também começou a entender que as táticas e estratégias exigidas nessas novas guerras não eram as mesmas da Segunda Guerra Mundial. Os Estados Unidos, ele percebeu, teriam que aprender com os erros da França. Teriam que lutar um tipo diferente de guerra, uma guerra menor, uma guerra secreta, uma guerra psicológica e uma guerra de alta tecnologia – uma “guerra que não tem armas nucleares, não tem a planície do norte da Alemanha e não necessariamente tem estadunidenses”, explicou Godel mais tarde.31
De volta aos Estados Unidos, ele esboçou como seria essa nova guerra.

A teoria da contrainsurgência não era particularmente nova. No início do século XX, os Estados Unidos haviam conduzido operações brutais de contrainsurgência nas Filipinas e na América do Sul. E a CIA estava no meio de uma violenta campanha de contrainsurgência secreta no Vietnã do Norte e no Laos – chefiada pelo futuro chefe de Godel, o coronel da Força Aérea Edward Lansdale – que incluía incursões, esquadrões da morte, propaganda e tortura.32 O que tornou a visão de contrainsurgência de Godel diferente foi seu foco no uso da tecnologia para aumentar a eficácia. Claro, a contrainsurgência envolveu terror e intimidação. Tinha coerção e propaganda. Mas o que era igualmente importante era treinar e equipar combatentes – não importando se fossem equipes de operações especiais dos EUA ou forças locais – com a mais avançada tecnologia militar disponível: melhores armas, melhores uniformes, melhor transporte, melhor inteligência e melhor entendimento de onde vinha a incrível força da resistência local. “Do jeito que Godel viu, o Pentágono precisava desenvolver armamento avançado, baseado em tecnologia que não fosse apenas tecnologia nuclear, mas que pudesse lidar com essa ameaça que estava por vir”, escreve Jacobsen.33

Godel fez proselitismo com essa nova visão nos Estados Unidos, dando palestras e falando sobre suas teorias de contrainsurgência em instituições militares de todo o país. Enquanto isso, a recém-criada ARPA o convocou para dirigir seu vagamente denominado Escritório de Desenvolvimentos Estrangeiros, a partir do qual ele administraria as operações secretas da agência. O trabalho era obscuro, altamente sigiloso e extremamente fluido. Godel supervisionaria os projetos ultrassecretos de mísseis e satélites da agência em um momento, e bolaria planos de ataques nucleares numa dada região em nome da Agência Nacional de Segurança no outro. Um desses planos envolveu a detonação de uma bomba nuclear em uma pequena ilha no Oceano Índico a mando da ARPA. A ideia era criar uma cratera perfeitamente parabólica onde pudesse caber uma antena gigante que a NSA queria construir para captar sinais de rádio soviéticos que se espalhavam pelo espaço e ricocheteavam de volta pela lua. “A ARPA garantiu uma radioatividade residual mínima e a forma adequada da cratera na qual a antena seria posteriormente colocada”, disse um funcionário da NSA. “Nunca acreditamos nessa possibilidade. A moratória nuclear entre os EUA e a URSS foi assinada um pouco mais tarde e esse plano desapareceu”.34

Quando Godel não estava planejando explodir pequenas ilhas tropicais, ele estava perseguindo sua principal paixão: contrainsurgência de alta tecnologia. Como Jacobsen relata no seu livro Pentagon’s Brain: “Godel estava agora em posição de criar e implementar os próprios programas que ele vinha dizendo ao público das faculdades de guerra em todo o país que precisavam ser criados. Através da inserção de uma presença militar dos EUA em terras estrangeiras ameaçadas pelo comunismo – através de ciência e tecnologia avançadas -, a democracia triunfaria e o comunismo fracassaria. Essa busca rapidamente se tornaria a obsessão de Godel.”35

Enquanto isso, em seu trabalho para a ARPA, ele viajou para o Sudeste Asiático para avaliar a crescente insurgência do Viet Minh e reservou uma viagem à Austrália para falar sobre contrainsurgência e explorar um potencial local de lançamento de satélites polares.36 Durante todo esse tempo, ele insistiu em sua linha principal: os Estados Unidos precisavam estabelecer uma agência de contrainsurgência para enfrentar a ameaça comunista. Em uma série de memorandos ao subsecretário de defesa, Godel argumentou: “Organizações militares convencionalmente treinadas, convencionalmente organizadas e convencionalmente equipadas são incapazes de funcionar em operações anti-guerrilha”. Apesar da esmagadora superioridade de tamanho do exército sul-vietnamita, ele não conseguira conter uma insurreição armada muito menor, ressaltou. Ele pressionou pela permissão de que a ARPA montasse um centro de pesquisa de contrainsurgência no campo – primeiro para estudar e compreender cientificamente as necessidades das forças anti-insurgência locais e depois usar as descobertas para treinar paramilitares locais. “Essas forças devem ser formadas não com pessoal com armas e equipamentos convencionais que exigem manutenção de terceiro e quarto nível, mas com pessoas capazes de serem agricultores ou taxistas durante o dia e forças anti-guerrilha à noite”, escreveu ele.37

A visão de Godel esbarrou de frente com o pensamento dominante do Exército dos EUA na época, e suas propostas não geraram muito entusiasmo com o pessoal do presidente Eisenhower. Mas, de qualquer maneira, eles estavam saindo do governo e ele acabou encontrando uma plateia ansiosa na administração que chegava.

Grampeando o Campo de Batalha

John F. Kennedy foi empossado como o trigésimo presidente dos Estados Unidos em 20 de janeiro de 1961. Jovem e arrojado, o ex-senador de Massachusetts era progressista em política interna e era um falcão da Guerra Fria comprometido com a política externa. Sua eleição deu início a uma safra de jovens tecnocratas de elite que realmente acreditavam no poder da ciência e da tecnologia para resolver os problemas do mundo. E havia muitos problemas a serem resolvidos. Não era apenas a União Soviética. Kennedy enfrentou insurgências regionais contra governos aliados dos EUA em todo o mundo: Cuba, Argel, Vietnã e Laos, Nicarágua, Guatemala e Líbano. Muitos desses conflitos surgiram de movimentos locais, recrutaram combatentes locais e foram apoiados por populações locais. Contê-los não era algo que uma grande operação militar tradicional ou um ataque nuclear tático poderia resolver.

Dois meses depois de assumir o cargo, o presidente Kennedy enviou uma mensagem ao Congresso defendendo a necessidade de expandir e modernizar a postura militar dos EUA para enfrentar essa nova ameaça. “A segurança do Mundo Livre pode ser ameaçada não apenas por um ataque nuclear, mas também por ser lentamente corroída na periferia, independentemente de nosso poder estratégico, por forças de subversão, infiltração, intimidação, agressão indireta ou não-aberta, revolução interna, chantagem diplomática, guerra de guerrilha ou uma série de pequenas guerras”, disse ele, argumentando energicamente por novos métodos de lidar com insurgências e rebeliões locais. “Precisamos de uma maior habilidade para lidar com as forças de guerrilha, insurreições e subversão. Grande parte do nosso esforço passado para criar forças de guerrilha e anti-guerrilha foi dirigida à guerra geral. Devemos estar prontos agora para lidar com qualquer tamanho de força, incluindo pequenos grupos de homens apoiados externamente; e devemos ajudar a treinar as forças locais para serem igualmente eficazes”.38

O presidente queria uma maneira melhor de combater o comunismo – e a ARPA parecia o veículo perfeito para levar a cabo sua visão.

Pouco depois do discurso, conselheiros da CIA, do Pentágono e do Departamento de Estado elaboraram um plano de ação para um enorme programa de iniciativas secretas de guerra militar, econômica e psicológica para lidar com o que Kennedy via como o maior de todos os problemas: a crescente insurreição no Vietnã e no Laos. O plano incluía a obsessão pessoal de William Godel: o Projeto Agile, um programa de pesquisa e desenvolvimento de contrainsurgência de alta tecnologia.39 Em uma reunião do Conselho de Segurança Nacional em 29 de abril de 1961, o presidente Kennedy assinou no seguinte documento: “Temos que ajudar o GVN [Governo do Vietnã] a estabelecer um Centro de Desenvolvimento e Testes de Combate no Vietnã do Sul para desenvolver, com a ajuda de tecnologia moderna, novas técnicas para uso contra as forças vietcongues.”40

Com essas poucas linhas, nasceu o Projeto Agile da ARPA. Agile foi incorporado em um programa militar e diplomático muito maior iniciado pelo presidente Kennedy e destinado a auxiliar o governo do Vietnã do Sul contra uma crescente ofensiva rebelde. O programa rapidamente se transformaria em uma campanha militar total e, ao fim, desastrosa. Mas para a ARPA, foi uma nova vida. Esse impulso tornou a agência relevante novamente e colocou-a no centro dos acontecimentos.

Godel operou o Agile sem nenhum impedimento e reportava a Edward Lansdale, um oficial aposentado da força aérea que dirigia as operações secretas de contrainsurgência da CIA no Vietnã.41 Devido à necessidade de sigilo – os Estados Unidos não estavam oficialmente envolvidos militarmente no Vietnã -, uma névoa espessa pairava sobre o projeto. “Reportando-se diretamente a Lansdale, ele conduziu um trabalho tão secreto que até os diretores da ARPA, sem falar nos baixos funcionários, desconheciam os detalhes específicos”, escreve Sharon Weinberger em The Imagineers of War, sua história da ARPA.42

O foco inicial era o Centro de Testes e Desenvolvimento de Combate, um projeto ultrassecreto da ARPA, composto por um conjunto de edifícios às margens do rio Saigon que Godel ajudou a estabelecer no verão de 1961. O programa começou com um único local e uma missão relativamente direta: desenvolver armas e adaptar dispositivos de campo de batalha de contrainsurgência para uso nas selvas densas e sufocantes do Sudeste Asiático.43 Mas, à medida que a presença militar dos EUA aumentava no Vietnã e, finalmente, se transformava em uma guerra intensa, o projeto cresceu em escopo e ambição.44 Ele acabou abrindo vários outros grandes complexos de pesquisa e desenvolvimento na Tailândia, bem como postos avançados menores no Líbano e no Panamá. A agência não apenas desenvolveu e testou novas tecnologias de armas, mas também formulou estratégias, treinou forças locais e participou de ataques de contrainsurgência e missões de operações psicológicas.45 Cada vez mais, assumiu um papel que caberia muito bem à CIA. Ela também se tornou global, visando revoltas e movimentos políticos de esquerda ou socialistas onde quer que estivessem – incluindo dentro dos Estados Unidos.

A agência testou armas leves de combate para os militares sul-vietnamitas, o que os levou à adoção das AR-15 e M-16 como fuzis padrão. Ajudou a desenvolver uma aeronave de vigilância leve que planava silenciosamente sobre a floresta. Formulou rações de campo e alimentos adequados ao clima quente e úmido. Ela financiou a criação de sofisticados sistemas de vigilância eletrônica e financiou esforços elaborados para coletar todo tipo de inteligência relacionada a conflitos. Trabalhou na melhoria da tecnologia de comunicação militar para que funcionasse em florestas densas. Ela desenvolveu instalações portáteis de radar que poderiam ser colocadas em um balão, uma tecnologia que foi rapidamente implantada comercialmente nos Estados Unidos para monitorar as fronteiras contra travessias ilegais.46 Também projetou veículos que pudessem atravessar melhor um terreno pantanoso, um protótipo de “elefante mecânico” similar aos robôs de quatro patas que a DARPA e a Google desenvolveram meio século depois.47

A ARPA frequentemente ultrapassava as fronteiras do que era considerado tecnologicamente possível e era pioneira em sistemas de vigilância eletrônica que estavam décadas à frente de seu tempo. Ela desempenhou um papel importante em algumas das iniciativas mais ambiciosas da época. Isso incluiu o Projeto Igloo White, uma barreira computadorizada de vigilância que custava bilhões de dólares.48 Operado a partir de uma base secreta da força aérea na Tailândia, o Igloo White envolveu a implantação de milhares de sensores sísmicos controlados por rádio, microfones e detectores de calor e urina na selva. Esses dispositivos de espionagem, em forma de bastões ou plantas e geralmente lançados por aviões, transmitiam sinais para um centro de controle centralizado de computadores, para alertar os técnicos de qualquer movimento na selva.49 Se alguma coisa se movia, um ataque aéreo era acionado e a área coberta com bombas e napalm. O Igloo White era como um gigantesco sistema de alarme sem fio que abrangia centenas de quilômetros de selva. Como a Força Aérea dos EUA explicou: “Estamos, na verdade, grampeando o campo de batalha.”50

John T. Halliday, piloto aposentado da Força Aérea, descreveu o centro de operações Igloo White na Tailândia em seu livro de memórias. “Sabe aquelas enormes painéis eletrônicos do filme Dr. Strangelove que mostravam os bombardeiros russos indo para os EUA e os nossos indo contra eles?” escreveu. “Bom, a Força-Tarefa Alpha é muito parecida, exceto pelos monitores coloridos de três andares de altura atualizados em tempo real – é toda a maldita trilha de Ho Chi Minh, ao vivo e a cores.”51

Halliday fazia parte de uma equipe que fazia bombardeios noturnos sobre trilha de Ho Chi Minh, visando comboios de suprimentos com base em informações fornecidas por essa cerca eletrônica. Ele e sua unidade ficaram impressionados com a natureza futurista de tudo aquilo:

Ao sair da selva e entrar no prédio, você volta para os EUA – mas os EUA quinze anos à frente… talvez 1984. É lindo… um piso de cerâmica reluzente… paredes de vidro por toda parte. Eles têm uma cafeteria completa onde você pode conseguir o que quiser. Eles até têm leite de verdade, não aquela porcaria em pó que pegamos no refeitório. E ar-condicionado? Todo o maldito lugar é climatizado. Tem até uma pista de boliche e um cinema. Era eu e um monte de civis que se pareciam com caras da IBM, correndo em terno e gravata, todos usando óculos… era a “Central dos Nerds”. Nós nunca víamos eles em nossa parte da base, então acho que tinham tudo que precisavam lá mesmo.
Aí, tem essa sala de controle principal que se parece com a que vimos na TV durante as cenas da lua da missão Apollo, ou talvez algo saído de um filme do James Bond. Há terminais de computador em todos os lugares. Mas a principal característica é essa enorme tela de três andares representando em cores toda a trilha de Ho Chi Minh com uma representação em tempo real de caminhões descendo a estrada. Era muito foda, cara.52

Igloo White durou cinco anos com um custo total de cerca de US $ 5 bilhões – cerca de US $ 30 bilhões hoje. Embora amplamente elogiado na época, o projeto foi julgado como uma falha operacional. “Os guerrilheiros simplesmente aprenderam a confundir os sensores gringos com ruídos de caminhões gravados em fita, sacos de urina e outros engodos, provocando a liberação de toneladas e mais toneladas de bombas em sendas vazias da selva que eles depois percorriam livremente”, diz o historiador. Paul N. Edwards.53 Apesar do fracasso, a tecnologia de “cerca eletrônica” do Igloo White foi implantada alguns anos mais tarde ao longo da fronteira estadunidense com o México.54

O Projeto Agile fez um enorme sucesso com governo sul-vietnamita. O Presidente Diem fez várias visitas ao centro de pesquisa da ARPA em Saigon e se encontrou pessoalmente com Godel e o restante da equipe da ARPA.55 O presidente tinha apenas uma exigência: o envolvimento gringo deve permanecer secreto. E Godel pensava o mesmo. Lá nos EUA, para justificar a necessidade de uma nova abordagem de contrainsurgência, ele frequentemente repetia o que o presidente Diem lhe disse: “A única forma de perdemos é se os estadunidenses entrarem aqui”.