A ofuscação é a adição deliberada de informações ambíguas, confusas ou enganosas para interferir na vigilância e na coleta de dados. É uma coisa simples, com muitas aplicações e usos diferentes e complexos.
Começamos a tradução do livro “Ofuscação, Um Guia do Usuário para Privacidade e Protesto” de Finn Brunton e Helen Nissenbaum, publicado em 2015.
A tática da ofuscação nos parece adequada e justificável como forma de sabotar o capitalismo de vigilância. Dentro do campo da segurança da informação e dos movimentos pela privacidade, esse livro parece o único a apontar nessa direção. Como disse James Scott, no artigo “Formas cotidianas de resistência camponesa“, a maioria das táticas de enfrentamento dos camponeses, ao contrário dos espetaculares movimentos operários das cidades, eram informais, dispersas, sem liderança, clandestinas. Ações como “furtos de arroz, a debulha incompleta, deixando grãos no caule para outros membros da família respigarem, boicotes aos agricultores que pagavam pouco ou, no início, que usavam as máquinas de ceifar e debulhar, a matança de animais dos ricos que invadiam hortas, e todo tipo de boatos, difamações, e ameaças veladas” compunham essa resistência do dia a dia. A ofuscação funciona nesse sentido: areia escorrendo lentamente para dentro da máquina.