1 Casos Principais
1.1 Chaff: derrotar o radar militar
Durante a Segunda Guerra Mundial, um operador de radar rastreia um avião sobre Hamburgo, guiando holofotes e armas antiaéreas em relação a um ponto verde no visor cuja posição é atualizada a cada varredura da antena. Abruptamente, os pontos que parecem representar aviões começam a se multiplicar, inundando rapidamente o visor. O avião real está ali em algum lugar, impossível de ser localizado devido à presença de “ecos falsos”1.
O avião liberou chaffs* – tiras de papel preto com fundo de alumínio – e, com isso, cortou para metade do comprimento de onda do radar alvo. Lançados aos milhares e depois flutuando pelo ar, eles enchem a tela do radar com sinais. A tática chaff satisfez exatamente as condições de dados que o radar está configurado para procurar e lhe deu mais “aviões”, espalhados por todo o céu, do que ele pode lidar.
Este pode muito bem ser o exemplo mais puro e simples da abordagem de ofuscação. Como a descoberta de um avião real era inevitável (não havia, na época, uma maneira de tornar um avião invisível ao radar), a chaff causou perdas em termos de tempo e colocou restrições de largura de banda ao sistema de descoberta, criando demasiados alvos potenciais. O fato de que a chaff funcionava apenas por um curto período de tempo, pois flutuava até o solo e não era uma solução permanente, não era relevante dadas as circunstâncias. Só tinha que funcionar bem e por tempo suficiente para que o avião ultrapassasse o alcance do radar.
Como discutiremos na parte II, muitas formas de ofuscação funcionam melhor como movimentos “descartáveis” para comprar de tempo. Eles podem lhe dar apenas alguns minutos, mas às vezes alguns minutos é todo o tempo que você precisa.
O exemplo da chaff também nos ajuda a distinguir, no nível mais básico, entre as abordagens de ofuscação. A tática chaff depende da produção de ecos – imitações da coisa real – que exploram o escopo limitado do observador. (Fred Cohen chama isso de “estratégia do engodo”.2) Como veremos, algumas formas de ofuscação geram sinais genuínos, mas enganosos – como você protegeria o conteúdo de um veículo enviando-o acompanhado por vários outros veículos idênticos, ou defenderia um determinado avião enchendo o céu com outros aviões – enquanto outras formas baralham sinais genuínos, misturando dados num esforço para tornar a extração de padrões mais difícil. Dado que as pessoas que espalham chaff têm conhecimento exato de seu adversário, a chaff não tem que fazer nenhuma destas duas coisas.
Se os projetistas de um sistema de ofuscação têm conhecimento específico e detalhado dos limites do observador, o sistema que eles desenvolvem tem que funcionar por apenas um comprimento de onda e por apenas 45 minutos. Se o sistema que seu adversário usa para observação for mais paciente, ou se tiver um conjunto mais abrangente de capacidades de observação, eles têm que fazer uso do que sabem sobre os objetivos do adversário – isto é, de quais informações úteis o adversário espera extrair dos dados obtidos através da vigilância – e minar esses objetivos através da manipulação de sinais genuínos.
Antes de passarmos à manipulação de sinais genuínos, vejamos um exemplo muito diferente de inundação de um canal com ecos.
*Daria pra traduzir chaff como palha, mas não sei o termo técnico militar.