1.9 Documentação em excesso: como tornar a análise ineficiente
Continuando nosso olhar para o tipo de ofuscação que opera acrescentando sinais genuínos mas enganosos, consideremos agora a superprodução de documentos como uma forma de ofuscação, como no caso de uma divulgação excessiva de material em uma ação judicial. Esta foi a estratégia de Augustin Lejeune, chefe do Departamento Geral de Polícia no Comitê de Segurança Pública, um instrumento importante na fase do Terror da Revolução Francesa. Lejeune e seus funcionários produziram os relatórios que lançaram as bases para prisões, internações e execuções. Mais tarde, num esforço para desculpar seu papel no Terror, Lejeune argumentou que a qualidade exigente e esmagadoramente detalhada dos relatórios de seu escritório havia sido deliberada: ele havia instruído seus funcionários a produzir material em excesso, e a relatar “os mais pequenos detalhes”, a fim de retardar a produção de inteligência para o Comitê sem parecer uma rebelião. É duvidoso que as reivindicações de Lejeune sejam inteiramente precisas (os números que ele cita para a produção de relatórios não são confiáveis), mas, como aponta Ben Kafka, ele tinha inventado uma estratégia burocrática para criar lentidão através do excesso de oferta: “Ele parece ter reconhecido, ainda que tardiamente, que a proliferação de documentos e detalhes apresentava oportunidades de resistência, bem como de conformidade”.1 Em situações onde não se pode dizer “não”, há oportunidades para um coro de “sim” inúteis – por exemplo, não envie uma pasta em resposta a uma solicitação; envie um armário de pastas contendo papéis potencialmente relevantes.