1.10 Baralhamento de cartões SIM: como tornar incerta a busca de celulares
Como revelaram relatórios recentes e algumas das revelações de Edward Snowden, os analistas que trabalham para a Agência Nacional de Segurança (EUA) utilizam uma combinação de fontes de sinais de inteligência – especialmente metadados de telefones celulares e dados de sistemas de geolocalização – para identificar e rastrear alvos para eliminação.1 Os metadados (mostrando quais números foram chamados e quando foram chamados) produzem um modelo de rede social que torna possível identificar números de telefone particulares como pertencentes a pessoas de interesse; as propriedades de geolocalização dos telefones celulares garantem que esses números podem ser situados, com diferentes graus de precisão, em lugares particulares, e então poderem ser alvo de drones. Em outras palavras, este sistema pode proceder da identificação, passando pela localização, até o assassinato sem nunca ter uma identificação visual cara a cara de uma pessoa. O mais próximo que um operador de drone pode chegar a colocar os olhos em alguém pode ser o exterior de um edifício, ou uma silhueta entrando em um carro. Tendo em vista os registros irregulares sobre o programa de metadados de telefones celulares da NSA e os ataques com drones, há, é claro, sérias preocupações sobre a precisão. Quer se esteja preocupado com as ameaças à segurança nacional permanecendo seguro e ativo, com as vidas de pessoas inocentes tomadas injustamente, ou com ambas, é fácil ver as possíveis falhas nesta abordagem.
Mudemos a situação e a consideremos mais abstratamente da perspectiva dos alvos. A maioria dos alvos da NSA é obrigada a ter sempre, seja com eles ou perto deles, um dispositivo de rastreamento (somente as figuras mais altas nas organizações terroristas são capazes de se livrar da tecnologia geradora de sinais), assim como praticamente todas as pessoas com as quais estão em contato. As chamadas e conversas que sustentam suas organizações também fornecem os meios de sua identificação; a estrutura que torna seu trabalho possível também os aprisiona. Em vez de tentar coordenar armas antiaéreas para encontrar um alvo em algum lugar no céu, o adversário tem total superioridade aérea, capaz de acertar um míssil em um carro, uma esquina de rua, ou uma casa. Entretanto, o adversário também tem um conjunto intimamente relacionado de limitações sistêmicas. Este sistema, por mais notável que seja seu escopo e capacidades, em última análise, depende de cartões SIM (módulo de identidade do assinante de celular) e da posse física de telefones celulares – um tipo de espectro estreito que pode ser explorado. Um antigo operador de aeronaves do Comando Conjunto de Operações Especiais informou que os alvos, sabendo disso, tomam medidas para misturar e confundir sinais genuínos. Alguns indivíduos têm muitos cartões SIM em circulação associados à sua identidade e os cartões são redistribuídos aleatoriamente. Uma abordagem usada é realizar reuniões nas quais todos os participantes colocam seus cartões SIM em uma bolsa, depois pegam os cartões da bolsa aleatoriamente, para que não fique claro quem está realmente conectado a cada dispositivo. (Esta é uma abordagem de tempo limitado: se a análise de metadados for suficientemente sofisticada, um analista deverá eventualmente ser capaz de classificar os indivíduos novamente com base em padrões de chamadas passadas, mas o re-baralhamento irregular torna isso mais difícil). O re-baralhamento pode também acontecer involuntariamente, pois os alvos que não sabem que estão sendo rastreados vendem seus telefones ou os emprestam a amigos ou parentes. O resultado final é um sistema com enorme precisão técnica e uma taxa muito incerta de sucesso real, seja medido em termos de indivíduos perigosos eliminados ou em termos de inocentes não-combatentes mortos por engano. Mesmo quando não se pode evitar o rastreamento razoavelmente exato de localização e a análise sociográfica, usar a ofuscação para recombinar e misturar sinais genuínos, em vez de gerar sinais falsos, pode oferecer uma medida de defesa e controle.