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Vale da Vigilância, Cap 1. Um novo tipo de guerra (1)

Seguindo a tradução do livro Vale da Vigilância, de Yasha Levine, comecei a “Parte I – A História Perdida”. Essa postagem contém os dois primeiros subcapítulos de “Um novo tipo de guerra”. Dividi este capítulo em 3 partes. Em breve publicarei as duas seguintes.


Capítulo 1
Um novo tipo de guerra

Nosso ódio pelos americanos é tão elevado quanto o céu.
– canção vietnamita do norte

Em 8 de junho de 1961, um oficial de inteligência militar chamado William Godel chegou a Saigon vindo de Washington, DC. Era um dia quente de verão quando ele desembarcou na capital do Vietnã do Sul, e Godel, sofrendo com o jetlag e gotejando de suor, visitou vários edifícios baixos, ao estilo de barracas militares, não muito longe do rio Saigon. Caminhou com dificuldade, com a perna manca de seus dias de guerra contra as forças japonesas no sul do Pacífico. Superficialmente, não havia nada de especial nessa excursão. Havia pouco para indicar que essas estruturas indefinidas, com suas paredes brancas e telhados inclinados, eram o centro do Projeto Agile, um programa ultrassecreto de contrainsurgência que desempenharia um papel importante na história da Guerra do Vietnã e na ascensão da tecnologia informática moderna.

De sua base no Pentágono, Godel pressionava por uma iniciativa como o Agile por mais de uma década. Agora, este projeto havia conseguido o apoio pessoal do presidente John F. Kennedy.1

Os primeiros resultados foram vistos em 10 de agosto de 1961, quando um helicóptero Sikorsky H-34, em forma de um enorme peixe de cauda larga, levantou-se preguiçosamente acima de Saigon e seguiu em direção às selvas impenetráveis de Kon Tum, na fronteira com o Laos e o Camboja.2 Uma vez que o piloto encontrou seu alvo, ele sinalizou, e a tripulação ligou um borrifador de colheita especial acoplado na parte de baixo da nave. Em um movimento de varredura lenta, eles pulverizaram a selva abaixo com uma mistura experimental de produtos químicos de desfolhação altamente tóxicos. Entre eles estava o infame Agente Laranja. Aqueles que cheiraram disseram que se assemelhava a perfume.

Os Estados Unidos ainda não estavam oficialmente em guerra no Vietnã. No entanto, durante vários anos, haviam canalizado dinheiro e armas para a região para ajudar os franceses a empreender uma guerra contra o Vietnã do Norte, o Estado revolucionário comunista liderado por Ho Chi Minh que estava lutando para reunificar o país e expulsar seus governantes coloniais.3 Naquele momento, quando a tripulação de Godel pulverizou as selvas, os Estados Unidos estavam aumentando seu apoio em dinheiro e armas. Milhares de “conselheiros” militares foram enviados ao Vietnã do Sul para apoiar o governo fantoche de Ngo Dinh Diem, na esperança de conter o que os estadunidenses viam como uma crescente onda global de comunismo.4

Não foi uma luta fácil nas sufocantes selvas da Indochina. A densa cobertura vegetal era um problema persistente. Mas isso era uma das maiores vantagens táticas dos rebeldes, permitindo que eles levassem pessoas e suprimentos através dos países vizinhos Laos e Camboja sem serem detectados, e lançassem ataques mortais em território sul-vietnamita. Com o Projeto Agile, Godel estava determinado a acabar com essa vantagem.

O Império Britânico foi pioneiro no uso de desfolhantes como uma forma de guerra química, usando-os contra movimentos locais que se opunham ao seu domínio colonial. Na luta contra os rebeldes comunistas na Malásia, a Grã-Bretanha empregou-os implacavelmente para destruir suprimentos de comida e a cobertura das florestas.5 Os planejadores militares britânicos descreveram os desfolhantes como “uma forma de sanção contra uma nação recalcitrante que seria mais rápida que o bloqueio e menos repugnante que a bomba atômica”.

Godel seguiu o exemplo. Sob o Projeto Agile, químicos de um laboratório secreto do exército dos EUA em Fort Detrick, Maryland, testaram e isolaram potenciais produtos químicos desfolhantes que poderiam consumir a densa cobertura de uma floresta. Estes foram levados para Saigon e testados em campo. Eles funcionaram com eficiência brutal. As folhas caíram várias semanas depois de serem pulverizadas, desnudando a cobertura vegetal. Uma segunda aplicação aumentou a eficácia e matou permanentemente muitas árvores. Bombardear a área ou incendiá-la com napalm também tornou a desfolhação mais ou menos permanente.6 Com o sucesso dos testes, Godel elaborou planos ambiciosos para cobrir metade do Vietnã do Sul com desfolhantes químicos.7 A ideia não era apenas destruir a cobertura de árvores, mas também destruir plantações de alimentos para assim submeter os vietnamitas do norte.8

O presidente do Vietnã do Sul, Diem, apoiou o plano. Em 30 de novembro de 1961, o presidente Kennedy autorizou-o. Graças a Godel e ao Projeto Agile, a Operação Ranch Hand foi lançada.

Ranch Hand começou em 1962 e durou até a guerra terminar mais de uma década depois. Naquela época, os aviões estadunidenses de transporte C-123 borrifaram uma área igual em tamanho à metade do Vietnã do Sul, com vinte milhões de galões de desfolhantes de produtos químicos tóxicos. O Agente Laranja foi fortificado com outras cores do arco-íris: Agente Branco, Agente Rosa, Agente Roxo, Agente Azul. Os produtos químicos, produzidos por empresas gringas como a Dow e a Monsanto, transformaram áreas inteiras de florestas exuberantes em paisagens áridas, causando a morte e o sofrimento horrível de centenas de milhares de pessoas.9

A Operação Ranch Hand foi impiedosa e claramente violou as Convenções de Genebra. Este continua sendo um dos episódios mais vergonhosos da Guerra do Vietnã. No entanto, o projeto de desfolhação é notável por mais do que apenas sua crueldade inimaginável. O órgão governamental liderado por ele era um órgão do Departamento de Defesa chamado Agência de Projetos de Pesquisa Avançada (Advanced Research Projects Agency, ARPA) – mais conhecido hoje pelo nome ligeiramente reformulado de Agência de Projetos de Pesquisa Avançada em Defesa (Defense Research Projects Agency, DARPA). Nascido em 1958 como um programa para proteger os Estados Unidos de uma ameaça nuclear soviética vinda do espaço, ela lançou várias iniciativas inovadoras encarregadas de desenvolver armas avançadas e tecnologias militares. Entre elas, o Projeto Agile e a Pesquisa de Comando e Controle, duas iniciativas sobrepostas da ARPA que criaram a Internet.

Os EUA tem um xilique

No final de 1957, os estadunidenses assistiram à União Soviética lançar o primeiro satélite artificial, o Sputnik 1. O satélite era minúsculo, mais ou menos do tamanho de uma bola de vôlei, mas foi colocado em órbita pegando carona em cima do primeiro míssil balístico intercontinental do mundo. Isso foi ao mesmo tempo uma demonstração e uma ameaça. Se a União Soviética podia colocar um satélite no espaço, poderia também mandar uma ogiva nuclear em qualquer ponto dos Estados Unidos.

O Sputnik caiu na política paranoica dos EUA como um meteoro gigante. Os políticos viram o evento como um sinal de fraqueza militar e tecnológica dos EUA, e as reportagens se concentraram na vitória soviética por ter chegado primeiro no espaço. Como poderiam os EUA ficar atrás dos comunistas em algo tão vital? Foi uma afronta ao senso de excepcionalismo dos gringos.10

O presidente Dwight Eisenhower foi atacado por dormir no volante. Generais e políticos criaram histórias horripilantes sobre a iminente conquista soviética da terra e do espaço e pressionaram por mais gastos com defesa.11 Até mesmo o vice-presidente Richard Nixon criticou Eisenhower em público, dizendo a líderes empresariais que a lacuna de tecnologia entre os EUA e a União Soviética era grande demais para que eles esperassem um corte de impostos. O país precisava do dinheiro das empresas para recuperar o atraso.12

Enquanto o público se recuperava dessa grande derrota na chamada Corrida Espacial, o presidente Eisenhower sabia que tinha que fazer algo grandioso e muito público para salvar sua imagem e aliviar os medos das pessoas. Neil McElroy, seu recém-nomeado secretário de defesa, tinha um plano.

Imaculadamente arrumado e com o cabelo perfeitamente penteado repartido ao meio, McElroy tinha a aparência e os modos de um alto executivo de publicidade. O que é, na verdade, o que ele era antes que Eisenhower o chamasse para dirigir o Departamento de Defesa. Em seu emprego anterior como presidente da Procter and Gamble, a assinatura inovativa de McElroy era financiar “novelas” – dramas teatrais diurnos feitos sob medida para as donas de casa – como veículos de puro marketing para vender a seleção de sabonetes e detergentes domésticos de sua empresa. Como a revista Time, que colocou McElroy na capa de sua edição de outubro de 1953, disse: “As novelas mandam mais mensagens publicitárias para o consumidor – e vendem mais sabão – simplesmente porque a dona de casa pode absorver as mensagens por horas a fio enquanto ela cuida de suas tarefas domésticas.”13

Nas semanas seguintes ao lançamento soviético do Sputnik, McElroy criou o projeto perfeito de relações-públicas para salvar o dia. Ele requisitou a criação da Agência de Projetos de Pesquisa Avançada – ARPA – um novo corpo militar independente cujo objetivo era preencher a brecha espacial e garantir que uma derrota tecnológica embaraçosa como a do Sputnik nunca mais ocorresse.14 McElroy era um empresário que acreditava no poder dos negócios para resolver as coisas.15 Em novembro de 1957, ele apresentou a ARPA ao Congresso como uma organização que cortaria a burocracia governamental e criaria um veículo público-privado de pura ciência militar para impulsionar as fronteiras da tecnologia militar e desenvolver “vastos sistemas de armas do futuro”.16

A ideia por trás da ARPA era simples. Seria uma firma liderada por civis alojada dentro do Pentágono. Seria enxuta, com uma pequena equipe e um grande orçamento. Embora não construísse nem manejasse seus próprios laboratórios e instalações de pesquisa, funcionaria como um centro de gerenciamento executivo que descobriria o que precisava ser feito e então levaria o trabalho para universidades, institutos de pesquisa privados e terceirizadas militares.17

O plano atraiu a atenção do presidente Eisenhower, que desconfiava da disputa cínica pelo financiamento e poder de vários braços do exército – que ele acreditava ter inchado o orçamento e queimado dinheiro em projetos inúteis. A ideia de terceirizar pesquisa e desenvolvimento para o setor privado também atraía a comunidade empresarial.18 Os militares, por outro lado, não ficaram tão satisfeitos. A Força Aérea, a Marinha, o Exército e o Estado-Maior das Forças Armadas recuaram diante da ideia de que os civis estivessem sentados em cima deles e dizendo-lhes o que fazer. Eles temiam perder o controle sobre a aquisição de tecnologia, que era uma área de lucro e poder.

Os militares resistiram contra o plano de McElroy. O conflito entre eles foi tão grande que fez uma breve aparição no discurso anual de 1958 de Eisenhower: “Não estou tentando hoje fazer julgamentos sobre rivalidades daninhas entre serviços. Mas uma coisa é certa. Não importa quais sejam, os Estados Unidos quer que parem.”19 E ele conseguiu o que queria. Em 11 de fevereiro de 1958, um mês depois do discurso anual e apenas cinco meses após o lançamento do Sputnik, o Congresso escreveu a ARPA em um projeto de lei da Força Aérea dos Estados Unidos, concedendo US $ 520 milhões em financiamento inicial e um plano para um gigantesco orçamento de US $ 2 bilhões.20

McElroy escolheu Roy Johnson, executivo da General Electric, para dirigir a nova agência. Um relatório interno do Pentágono descreveu-o como um “indivíduo extremamente confiante, calmo e surpreendentemente bonito, que parecia em cada centímetro como um magnata da capa da revista Fortune”. Também observou que sua única preocupação em assumir o cargo era potencialmente perder uma lucrativa lacuna fiscal: “Johnson também era uma pessoa muito rica, deixando um emprego de US $ 158 mil para aceitar um cargo de US $ 18 mil na ARPA. Por razões fiscais, ele assumiu o cargo na ARPA com a condição de que pudesse estar fisicamente presente em Connecticut por um número mínimo de dias. Isso significava que ele geralmente saía de Washington na sexta-feira e retornava segunda ou terça. Frequentemente usava um avião particular. Proteger os EUA contra a União Soviética era importante. Mas uma pessoa tinha que se importar com seu imposto de renda.21

Nos primeiros anos de existência, a ARPA assumiu diversos projetos importantes. Tinha uma divisão espacial desenvolvendo mísseis balísticos. Trabalhou em satélites de espionagem e meteorologia, bem como em sistemas de localização por satélite, e preparou-se desde cedo para colocar um ser humano no espaço. Também ajudou a executar testes nucleares como a Operação Argus, que envolveu a detonação de várias pequenas bombas nucleares nas camadas superiores da atmosfera acima do Atlântico Sul em uma tentativa radical de criar um escudo invisível de partículas eletricamente carregadas que fritaria os componentes eletrônicos de qualquer ogiva nuclear que voasse através dele.22

Com todos esses projetos, parecia que a ARPA estava tendo um começo glorioso, mas a excitação não durou. As disputas internas no Pentágono e a criação de uma NASA desmilitarizada – a Administração Nacional de Aeronáutica e Espaço – sugaram dinheiro e prestígio da agência. Menos de um ano depois de ter sido criada, o orçamento da ARPA foi reduzido a apenas US $ 150 milhões – uma bagatela comparado ao orçamento de US $ 2 bilhões prometido.23 Nos anos seguintes, mudou três vezes de diretor e lutou para permanecer viva. Todos estavam convencidos de que a ARPA estava a caminho do túmulo.

No entanto, uma pessoa tinha um plano para salvá-la: William Godel.

Princípios feministas para a Internet

Estes princípios foram traduzidos do site FeministInternet,onde estão acompanhados de contextualizações e textos complementares. Tem bastante coisa massa lá!


(Esta introdução for tirada da versão em espanhol que está no site GenderIT)

Documento em processo de construção

Em abril de 2014, a Associação para o Progresso das Comunicações (APC), organizou o Encontro global sobre gênero, sexualidade e internet em Port Dickison, Malasia. Reuniram-se ali 50 participantes de seis continentes, ativistas de gênero e direitos das mulheres, integrantes do movimento LGBTQI (lésbicas, gays, bissexuais, trans, queers e interssexuais), organizações defensoras dos direitos na internet e de tecnologia, e ativistas de direitos humanos. O objetivo da reunião foi fechar a brecha existente entre os movimentos feministas e aquelas pessoas que defendem os direitos na internet, além de observar as intersecções e oportunidades estratégicas para trabalhar em conjunto como aliadas e sócias.

O discurso existente entorno do gênero e da internet tende a centrar-se nos componentes de gênero ausentes das políticas que governam a internet, as violações resultantes e a necessidade de uma maior participação das mulheres nos fóruns de tomada de decisões. Com a finalidade de redefinir os limites deste diálogo, o Encontro global utilizou um processo colaborativo para levantar a pergunta: “como feministas, que tipo de internet queremos e o que é preciso para alcançá-la?”


1. Acesso

Uma internet feminista possui como objetivo trabalhar para empoderar mais mulheres e pessoas queer – em toda a sua diversidade -, lutando pelo desmantelamento do patriarcado. Isso implica o acesso universal, acessível, irrestrito e igualitário à internet.

2. Informação

Como feministas, nós defendemos e protegemos o acesso irrestrito à informação relevante para mulheres e pessoas queer, particularmente informações sobre saúde e direitos sexuais e reprodutivos, prazer, aborto seguro, acesso à justiça, e assuntos LGTBIQ. Isso inclui diversidade nas línguas, habilidades, interesses e contextos.

3. Uso

Mulheres e pessoas queer possuem o direito de programar, projetar, adaptar e usar de forma crítica e sustentável as tecnologias de informação, e reivindicar a tecnologia como uma plataforma para a criatividade e a expressão, assim como para desafiar as culturas sexistas e de discriminação em todos os espaços.

4. Resistência

A internet é um espaço onde as normas sociais são negociadas, performadas e impostas, frequentemente como um extensão de outros espaços moldados pelo patriarcado e a heteronormatividade. Nossa luta por uma internet feminista forma parte de um contínuo de nossa resistência em outros espaços, públicos, privados e entre eles.

5. Construção de movimentos

A internet é um espaço político de transformação. Ela facilita novas formas de cidadania que permitem as pessoas de reivindicar, construir e expressar sua individualidade, gêneros e sexualidades. Isso inclui conectar entre territórios, exigindo responsabilidade e transparência, e criando oportunidades para a construção sustentável do movimento feminista.

6. Governança

Como ativistas feministas, acreditamos na necessidade de questionar o poder patriarcal que atualmente controla a internet, e promover a participação de mais feministas e pessoas queer nas mesas de tomada de decisões. Acreditamos na democratização da legislação e da regulação da internet, além de promover uma internet como propriedade de todas e todos e cujo poder se distribua para as redes globais e locais.

7. Economia

O questionamento feminista da lógica do capitalismo neoliberal que governa a internet é fundamental para desestabilizar e desmantelar o poder econômico que quer se apropriar da internet, e criar alternativas a tal poder baseadas nos princípios dos interesses coletivos, a solidariedade e da abertura.

8. Código-fonte aberto

Como ativistas feministas, temos o compromisso político de criar e experimentar com a tecnologia, incluindo segurança digital, utilizando ferramentas e plataformas de código aberto. Para nossas práticas, é essencial promover, difundir e compartilhar conhecimento sobre o uso dessas ferramentas.

9. Amplificação

Como feministas, exigimos o poder da internet para amplificar as narrativas e as realidades vividas pelas mulheres. É preciso resistir ao estado, à direita religiosa e a outras forças extremistas que monopolizam os discursos sobre a moralidade, ao mesmo tempo que silenciam as vozes feministas e perseguem mulheres defensoras de direitos humanos.

10. Expressão

Defendemos o direito à expressão sexual como uma questão de liberdade de expressão não menos importante que a expressão política ou religiosa. Nos opomos fortemente aos esforços do Estado e de atores não estatais de controlar, vigiar, regular e restringir a expressão feminista e queer na internet através da tecnologia, legislação ou violência. Reconhecemos isso como parte de um projeto político maior de policiamento moral, censura e hierarquização de cidadanias e direitos.

11. Pornografia

Reconhecemos que a questão da pornografia online tem a ver com agência, consentimento, poder e trabalho. Rejeitamos relações simplistas feitas entre consumo de pornografia e violência contra as mulheres. Também rejeitamos o uso do termo guarda-chuva “conteúdo prejudicial” para categorizar expressões sobre sexualidade feminina e transgênero. Apoiamos a reivindicação e a criação de conteúdo erótico alternativo que resista ao olhar patriarcal dominante e que coloque o desejo das mulheres e pessoas queer no centro.

12. Consentimento

Enfatizamos a necessidade de construir uma ética e uma política de consentimento nas culturas, projetos, políticas e termos de serviço das plataformas da internet. O poder de atuação das mulheres está na sua habilidade de tomar decisões informadas sobre quais aspectos da sua vida pública ou privada será compartilhado online.

13. Privacidade e dados

Defendemos o direito à privacidade e ao controle total sobre os dados e informações pessoais em todos os níveis. Rejeitamos práticas realizadas pelo Estado e por companhias privadas que usam dados para lucrar e manipular comportamentos online. A vigilância é uma ferramenta histórica do patriarcado, usada para controlar e restringir os corpos, discursos e ativismos das mulheres. Dedicamos igual atenção para as práticas de vigilância feitas por indivíduos, pelo setor privado, pelo Estado e por atores não estatais.

14. Memória

Temos o direito de exercer e manter controle sobre nossa história e memória pessoais na internet. Isso inclui ser capaz de acessar todos os nossos dados e informações pessoas online, e ser capaz de exercer controle sobre esses dados, incluindo saber quem tem acesso a eles e sob quais condições, e ter a habilidade de deletá-los para sempre.

15. Anonimato

Defendemos o direito de sermos anônimas e de rejeitar todas as vontades de restringir o anonimato online. O anonimato permite nossa liberdade de expressão online, particularmente quando estamos quebrando tabus em assuntos como sexualidade e heteronormatividade, experimentando com identidade de gênero, e promovendo segurança para mulheres e pessoas queer sujeitas à discriminação.

16. Crianças

Enfatizamos a inclusão das vozes e experiências das pessoas jovens nas decisões tomadas sobre segurança online e que promovam sua segurança e acesso à informação. Reconhecemos os direitos da criança à saúde emocional e desenvolvimento sexual, que incluem o direito à privacidade e acesso positivo a informações sobre sexo, gênero e sexualidade nos momentos críticos de suas vidas.

17. Violência

Chamamos todos os investidores, usuários, criadores de políticas e o setor privado da internet para tratar da questão do assédio online e da violência relacionada à tecnologia. Os ataques, ameaças, intimidação e policiamento experienciado por mulheres e pessoas queer são reais, danosos e alarmantes. Eles são parte de uma questão mais ampla de violência de gênero. É nossa responsabilidade coletiva de lidar e acabar com isso.