Vale da Vigilância – Cap. 7 Privacidade na Internet, financiada por espiões (5)

Nasce um herói

Jacob Appelbaum nasceu em 1983 no dia da mentira. Cresceu em Santa Rosa, uma cidade ao norte de São Francisco (EUA), em uma família boêmia. Ele gostava de falar sobre sua educação difícil: uma mãe esquizofrênica, um pai músico que virou drogado e uma situação doméstica que ficou tão ruim que ele teve que ficar catando agulhas usadas no sofá quando criança. Mas também era um garoto judeu inteligente de classe média, com um talento especial para programação e hackeio. Frequentou o colégio de Santa Rosa e teve aulas de ciência da computação. Se vestia de preto, no estilo gótico, e brincava com fotografia steampunk, tirando fotos retro-futuristas de jovens mulheres usando vestidos da era vitoriana em frente a máquinas a vapor e locomotivas. Politicamente, ele se identificou como libertarianista.

Como a maioria dos jovens libertarianistas, ele ficou encantado com The Fountainhead, de Ayn Rand, que descreveu como um de seus livros favoritos. “Peguei este livro enquanto estava viajando pela Europa no ano passado. A maioria dos meus amigos da extrema esquerda realmente não gosta de Ayn Rand por algum motivo ou outro. Eu não consigo nem começar a entender o porquê, mas é isso, cada um na sua”, escreveu ele em seu diário-blog. “Ao ler The Fountainhead, senti como se estivesse lendo uma história sobre pessoas que conhecia na minha vida cotidiana. Os personagens eram simples. A história também. O que achei atraente foi a moral por trás dela. Imagino que possa ser resumida em uma linha: aqueles que querem juntar pessoas para ações altruístas desejam escravizá-lo para seu próprio ganho. ”66

Ele se mudou para São Francisco e trabalhou em empregos de baixo nível com ênfase em gerenciamento de redes, mas se irritava com empregos regulares em tecnologia e ansiava por algo significativo.67 Tirou uma folga para se voluntariar em Nova Orleans depois do furacão Katrina e de alguma forma acabou no Iraque saindo com um colega de serviço militar que estava instalando serviço de satélite no país devastado pela guerra. Voltou a São Francisco mais determinado do que nunca a viver uma vida empolgante. “A vida é muito curta para desperdiçá-la em empregos que não gosto”, disse em uma entrevista em 2005.68 Um dia, ele ingressou em uma empresa iniciante pornô, vestiu-se de preto, pintou o cabelo de vermelho e posou com um vibrador de ferramenta elétrica para a revista Wired.69 No dia seguinte, viajaria para o outro lado do mundo para usar suas habilidades para um bem maior. “Sou um hacker freelancer. Trabalho em grupos que realmente precisam da minha ajuda. Eles vêm até mim e me pedem meus serviços”, disse. “Frequentemente, estou simplesmente configurando suas redes e sistemas em todo o mundo. Isso depende de como me sinto em relação ao trabalho que eles estão fazendo. Tem que ser um trabalho interessante e que visa um resultado interessante.”

Appelbaum também começou a desenvolver uma má reputação na cena hacker de Área da Baía por suas abordagens sexuais agressivas e indesejadas. A jornalista de São Francisco Violet Blue contou como ele passou meses tentando coagir e intimidar as mulheres a fazer sexo com ele, tentou forçar suas vítimas a se isolar com ele em salas ou escadas de festas e recorreu à difamação caso seus avanços fossem rejeitados.70 Esse padrão de comportamento provocaria sua queda quase uma década depois. Mas, por enquanto, ele estava em ascensão. E em 2008, Appelbaum finalmente conseguiu o emprego dos seus sonhos – uma posição que poderia se expandir da mesma forma que seu ego e ambição gigantescos.

Em abril daquele ano, Dingledine o contratou como um terceirizado em tempo integral. Tinha um salário inicial de US $ 96.000 mais benefícios e seu trabalho era tornar o Tor mais fácil de usar. Ele era um bom programador, mas não ficou focado no lado técnico por muito tempo. Como Dingledine descobriu, Appelbaum se mostrou melhor e muito mais útil em outra coisa: propaganda e relações públicas.

Os funcionários do Tor eram engenheiros de computação, matemáticos e viciados em criptografia. A maioria deles era introvertida e socialmente desajeitada. Pior ainda: alguns, como Roger Dingledine, passaram algum tempo nas agências de inteligência dos EUA e exibiram orgulhosamente esse fato em seus currículos on-line – um sinal não tão sutil de falta de radicalidade.72 Appelbaum adicionou um elemento diferente à organização. Ele tinha talento, gosto por drama e hipérbole. Ele estava cheio de histórias grandiosas e vaidade, e tinha um desejo ardente pelos holofotes.

Poucos meses depois de conseguir o emprego, ele assumiu o papel de porta-voz oficial do Projeto Tor e começou a promover o Tor como uma arma poderosa contra a opressão governamental.

Enquanto a Dingledine se concentrava em administrar o negócio, Jacob Appelbaum viajava de avião para locais exóticos ao redor do mundo para evangelizar e espalhar a nova. Esteve em dez países em um mês e não se incomodou: Argentina, Índia, Polônia, Coréia do Sul, Bélgica, Suíça, Canadá, Tunísia, Brasil e até o campus da Google em Mountain View, Califórnia.73 Deu palestras em conferências de tecnologia e eventos de hackers, brigou com executivos do Vale do Silício, visitou Hong Kong, treinou ativistas políticos estrangeiros no Oriente Médio e mostrou a ex-profissionais do sexo no Sudeste Asiático como se proteger on-line. Ele também se encontrou com as agências policiais suecas, mas isso foi feito fora dos olhos do público.74

Ao longo dos anos seguintes, os relatórios de Dingledine para o BBG foram preenchidos com descrições do sucesso do alcance de Appelbaum. “Tem sido feita bastante promoção do Tor”, escreveu Dingledine. “Outra caixa de adesivos Tor foi aplicada a muitos laptops. Muitas pessoas estavam interessadas no Tor e muitas instalaram-no em laptops e servidores. Essa promoção resultou em pelo menos dois novos nós de alta largura de banda que ele ajudou os administradores a configurar.”75 Documentos internos mostram que o orçamento proposto para o programa de publicidade global de Dingledine e Appelbaum era de US $ 20.000 por ano, o que incluía uma estratégia de relações públicas.76 “Elaborar uma mensagem que a mídia possa entender é uma parte crítica disso”, explicou Dingledine em uma proposta de 2008. “Não se trata tanto de que a mídia seja favorável ao Tor, mas de preparar jornalistas; se eles veem más notícias e pensam em divulgá-las, eles param e pensam.”77

Appelbaum era enérgico e fez o possível para promover o Tor entre ativistas da privacidade, criptografadores e, o mais importante de tudo, o movimento radical do cypherpunk que sonhava em usar a criptografia para assumir o poder dos governos e libertar o mundo do controle centralizado. Em 2010, ele conseguiu o apoio de Julian Assange, um hacker de cabelos prateados que queria acabar com os segredos do mundo.

O Tor fica radical

Jacob Appelbaum e Julian Assange se conheceram em Berlim em 2005, quando o misterioso hacker australiano estava se preparando para colocar o WikiLeaks em movimento. A ideia de Assange para o WikiLeaks era simples: a tirania do governo só pode sobreviver em um ecossistema de sigilo. Retire a capacidade dos poderosos de guardar segredos, e toda a fachada desabará ao seu redor. “Vamos foder com todos eles”, escreveu Assange, vertiginosamente, em um servidor de listas secreto, depois de anunciar seu objetivo de arrecadar US $ 5 milhões para o WikiLeaks. “Vamos abrir o mundo e deixá-lo florescer em algo novo. Se brigar com a CIA vai nos ajudar, então a gente vai fazer isso.”78

Appelbaum observou como Assange lentamente erigiu o WikiLeaks do nada, construindo seguidores dedicados dando conferências de hackeio para possíveis vazadores. Os dois se tornaram bons amigos, e Appelbaum mais tarde se gabou para o jornalista Andy Greenberg dizendo que eles eram tão próximos que fodiam garotas juntos. Numa manhã de ano novo, os dois acordaram em um apartamento em Berlim, em uma cama com duas mulheres. “Foi assim que rolamos em 2010”, disse ele.

Logo após aquela noite supostamente selvagem, Appelbaum decidiu se juntar à causa do WikiLeaks. Ele passou algumas semanas com Assange e a equipe original do WikiLeaks na Islândia, enquanto preparavam seu primeiro grande lançamento e ajudavam a proteger o sistema de envios anônimos do site usando o recurso de serviço oculto do Tor, que escondia a localização física dos servidores do WikiLeaks e, em teoria, os tornava muito menos suscetível à vigilância e a ataques. A partir de então, o site do WikiLeaks anunciou orgulhosamente o Tor: “uma rede distribuída segura, anônima e para máxima segurança”.

A sincronia de Appelbaum não poderia ter sido melhor. No final daquele verão, o WikiLeaks causou sensação internacional ao publicar uma enorme quantidade de documentos secretos do governo roubados e vazados por Chelsea (Bradley) Manning, uma jovem soldado do Exército dos EUA operando no Iraque. Primeiro vieram os registros de guerra do Afeganistão, mostrando como os Estados Unidos subnotificaram sistematicamente as baixas civis e operaram uma unidade de assassinato de elite. A seguir, vieram os registros da Guerra do Iraque, fornecendo evidências irrefutáveis de que os EUA haviam armado e treinado esquadrões da morte em uma brutal campanha de contrainsurgência contra a minoria sunita do Iraque. Isso ajudou a alimentar a guerra sectária xiita-sunita que levou a centenas de milhares de mortes e limpeza étnica em partes. de Bagdá.79 Então vieram os telegramas diplomáticos dos EUA, oferecendo uma visão sem precedentes sobre o funcionamento interno da diplomacia estadunidense: mudança de regime, acordos de bastidores com ditadores, corrupção de líderes estrangeiros por trás dos panos em nome da estabilidade.80

De repente, Assange era uma das pessoas mais famosas do mundo – um radical destemido quebrando o incrível poder dos Estados Unidos. Appelbaum fez o possível para ser o braço direito de Assange. Ele atuou como representante estadunidense oficial da organização e salvou o fundador do WikiLeaks de situações difíceis quando o calor das autoridades gringas era muito alto.81 Appelbaum ficou tão enredado com o WikiLeaks que, aparentemente, alguns funcionários falaram sobre ele acabar liderando a organização se algo acontecesse a Assange.82 Mas Assange manteve o controle firme do WikiLeaks, mesmo depois que foi forçado a se esconder na embaixada do Equador em Londres para escapar da extradição de volta à Suécia, ond enfrentaria uma investigação de acusações de estupro.

Não está claro se Assange sabia que o salário de Appelbaum estava sendo pago pelo mesmo governo que ele estava tentando destruir. O que está claro é que Assange deu amplo crédito a Appelbaum e Tor por ajudar o WikiLeaks. “Jake tem sido um promotor incansável nos bastidores de nossa causa”, disse ele a um repórter. “A importância do Tor para o WikiLeaks não pode ser subestimada.”83

Com essas palavras, Appelbaum e o Projeto Tor se tornaram heróis centrais na saga do WikiLeaks, logo atrás de Assange. Appelbaum alavancou seu novo status de rebelde por tudo que valia. Ele cevou os repórteres com histórias loucas de como sua associação com o WikiLeaks fez dele um homem procurado. Falou sobre ser perseguido, interrogado e ameaçado por forças sombrias do governo. Descreveu em detalhes arrepiantes como ele e todos que ele conhecia foram jogados em um pesadelo de assédio e vigilância do Big Brother. Alegou que sua mãe foi alvejada. Sua namorada recebia visitas noturnas de homens vestidos de preto. “Eu estava na Islândia trabalhando com um amigo na reforma da constituição deles. E ela viu dois homens do lado de fora de sua casa no quintal, o que significava que eles estavam na propriedade dela dentro de uma cerca. E um deles usava óculos de visão noturna e a observava dormir” contou em uma entrevista de rádio. “Então, ela apenas deitou na cama, em puro terror, pelo período em que eles ficaram ali e a observaram. E, presumivelmente, isso ocorria porque havia uma terceira pessoa na casa colocando uma escuta ou fazendo outra coisa, e eles a vigiavam para garantir que, se ela ouvisse algo ou se levantasse, seriam capazes de alertar essa outra pessoa.”84

Ele era um grande artista e tinha o talento de dar a jornalistas o que eles queriam. Contou histórias fantásticas, e Tor estava no centro de todas elas. Os repórteres engoliram tudo. Quanto mais exagerada e heroica sua atuação, mais atenção atraía para si. Artigos de notícias, programas de rádio, aparições na televisão e propagandas de revistas. A mídia não se saciava.

Em dezembro de 2010, a revista Rolling Stone publicou um perfil de Appelbaum como “o homem mais perigoso do ciberespaço”. O artigo o retratava como um destemido guerreiro tecno-anarquista que havia dedicado sua vida a derrubar o malvado aparelho de vigilância militar dos Estados Unidos, não importando o custo para sua própria vida. Estava cheio de drama, narrando a vida de Appelbaum na corrida pós-WikiLeaks. Descrições de apartamentos esvaziados às pressas, bolsas Ziploc cheias de dinheiro de locais exóticos e fotos de garotas punk com pouca roupa – presumivelmente os muitos interesses amorosos de Appelbaum. “Appelbaum está fora do radar desde então – evitando aeroportos, amigos, estranhos e locais inseguros, viajando pelo país de carro. Ele passou os últimos cinco anos de sua vida trabalhando para proteger ativistas em todo o mundo contra governos repressivos. Agora está fugindo por conta própria”, escreveu o repórter da Rolling Stone Nathaniel Rich.85

Sua associação com o WikiLeaks e Assange impulsionou o perfil público e as credenciais radicais do Projeto Tor. Receberam apoio e elogios de jornalistas, organizações de privacidade e organizações civis que fiscalizam o governo. A American Civil Liberties Union fez uma parceria com Appelbaum em um projeto de privacidade na Internet, e o Whitney Museum de Nova York – um dos principais museus de arte moderna do mundo – o convidou para um “Curso sobre Vigilância”.86 A Electronic Frontier Foundation concedeu ao Tor seu prêmio de pioneiro, e Roger Dingledine fez parte da lista dos 100 pensadores globais da revista Foreign Policy por proteger “qualquer pessoa e todo mundo dos perigos do Big Brother”.87

Quanto aos vínculos profundos e contínuos de Tor com o governo dos EUA? Bom, e daí? Para quem duvida, Jacob Appelbaum era considerado uma prova viva da independência radical do Projeto Tor. “Se os usuários ou desenvolvedores que ele encontra temem que o financiamento do governo ao Tor compromete seus ideais, não tem ninguém melhor do que Appelbaum para mostrar que o grupo não recebe ordens dos federais”, escreveu o jornalista Andy Greenberg em This Machine Kills Secrets, um livro sobre WikiLeaks. “A melhor evidência de Appelbaum com respeito à pureza do Tor em relação à interferência do Big Brother, talvez, seja sua associação pública ao WikiLeaks, o site menos favorito do governo estadunidense.”

Com Julian Assange endossando Tor, os repórteres assumiram que o governo dos EUA via o anonimato sem fins lucrativos como uma ameaça. Mas os documentos internos obtidos através do FOIA do Conselho de Governadores de Radiodifusão (BBG), bem como uma análise dos contratos do TOr com o governo, mostram um quadro diferente. Eles revelam que Appelbaum e Dingledine trabalharam com Assange para a proteção do WikiLeaks com o Tor desde o final de 2008 e mantiveram seus treinadores no BBG informados sobre seu relacionamento e até forneceram informações sobre o funcionamento interno do sistema de envio seguro do WikiLeaks.

“Conversei com o pessoal do WikiLeaks (Daniel e Julian) sobre o uso dos serviços ocultos do Tor e como podemos melhorar as coisas para eles”, escreveu Dingledine em um relatório de progresso que enviou ao BBG em janeiro de 2008. “Acontece que eles usam o serviço oculto inteiramente como uma maneira de impedir que os usuários façam bobagem – ou funciona e eles sabem que estão seguros, ou falha, mas de qualquer maneira não revela o que estão tentando vazar localmente. Então, eu gostaria de adicionar um novo recurso de ‘serviço seguro’ que é como um serviço oculto, mas apenas dá um salto do lado do servidor em vez de três. Um design mais radical seria fazer com que o “nós de entrada” seja o serviço em si, então seria realmente como um enclave de saída”.88 Em outro relatório de progresso enviado ao BBG, dois anos depois, em fevereiro de 2010, Dingledine escreveu: “Jacob e o WikiLeaks se reuniram com formuladores de políticas na Islândia para discutir liberdade de expressão, liberdade de imprensa e que a privacidade online deve ser um direito fundamental.”

Ninguém no BBG levantou objeções. Pelo contrário, eles pareciam apoiar. Não sabemos se alguém no BBG encaminhou essas informações a algum outro órgão governamental, mas não seria difícil imaginar que as informações sobre a infraestrutura de segurança e o sistema de envio de informações do WikiLeaks fossem de grande interesse para as agências de inteligência dos EUA.

Talvez o mais revelador foi que o apoio do BBG continuou mesmo depois que o WikiLeaks começou a publicar informações confidenciais do governo estadunidense e Appelbaum se tornou o alvo de uma investigação maior do WikiLeaks pelo Departamento de Justiça. Por exemplo, em 31 de julho de 2010, a CNET informou que Appelbaum havia sido detido no aeroporto de Las Vegas e questionado sobre seu relacionamento com o WikiLeaks.89 As notícias da detenção foram manchetes em todo o mundo, mais uma vez destacando os laços estreitos de Appelbaum com Julian Assange. E uma semana depois, o diretor executivo de Tor, Andrew Lewman, claramente preocupado que isso pudesse afetar o financiamento de Tor, enviou um e-mail a Ken Berman no BBG na esperança de amenizar as coisas e responder “quaisquer perguntas que você possa ter sobre as recentes notícias sobre Jake e WikiLeaks.” Mas Lewman teve uma agradável surpresa: Roger Dingledine mantinha o pessoal do BBG informado e tudo parecia bem. “Muito bom, obrigado. Roger respondeu a uma série de perguntas quando nos encontramos esta semana em DC”, respondeu Berman.90

Infelizmente, Berman não explicou no e-mail o que ele e Dingledine discutiram sobre Appelbaum e WikiLeaks durante a reunião. O que sabemos é que a associação de Tor com o WikiLeaks não produziu nenhum impacto negativo real nos contratos governamentais de Tor.91

Seus contratos de 2011 chegaram sem problemas – US $ 150.000 do Conselho de Governadores de Radiodifusão e US $ 227.118 do Departamento de Estado.92 O Tor conseguiu até ganhar uma grande parte do dinheiro do Pentágono: um novo contrato anual de US $ 503.706 do Comando de Sistemas Espaciais e Guerra Naval, uma unidade de elite de informações e inteligência que abriga uma divisão secreta de guerra cibernética.93 O contrato da marinha foi aprovado pelo SRI, o antigo contratado militar de Stanford que havia trabalhado com contrainsurgência, rede e armas químicas para a ARPA nas décadas de 1960 e 1970. Os fundos faziam parte de um programa maior da Marinha de “Comando, Controle, Comunicações, Computadores, Inteligência, Vigilância e Reconhecimento” para melhorar as operações militares. Um ano depois, Tor veria seus contratos governamentais dobrarem para US $ 2,2 milhões: US $ 353.000 do Departamento de Estado, US $ 876.099 da Marinha dos EUA e US $ 937.800 do Conselho de Radiodifusão.94

Quando fiz essas contas, não pude deixar de conferir com cuidado. Foi incrível. O WikiLeaks havia atingido diretamente os apoiadores do governo de Tor, incluindo o Pentágono e o Departamento de Estado. No entanto, a estreita parceria de Appelbaum com Assange não produziu desvantagens perceptíveis.

Acho que faz sentido, de certa forma. O WikiLeaks pode ter envergonhado algumas partes do governo dos EUA, mas também deu à principal arma de liberdade na Internet dos EUA uma injeção importante de credibilidade, melhorando sua eficácia e utilidade. Na verdade, foi uma boa oportunidade.